Faz poucos meses, depois da segunda visita de Luiz Inácio Lula da Silva na condição de chefe de estado a Cuba, Fidel Castro escreveu uma reflexão sobre o mandatário brasileiro.
A reflexão destacava as diferenças entre o ex-vice-presidente nicaragüense Sergio Ramírez e Lula da Silva. Sublinhava Castro em seu escrito, o sentido da lealdade do líder do Partido dos Trabalhadores, que se manifesta, em sua opinião, “na finalidade das idéias, à pátria, ao amigo, ao irmão, ao companheiro, às causas nobres e justas pelas quais o homem chega a arriscar e, inclusive, a oferecer a vida”.
Os elogios para Lula, constrataram com as críticas contra Ramírez, em cuja casa havia conhecido o dirigente operário em 1980, que estava acompanhado na ocasião por seu amigo e companheiro de militância, o inefável Frei Betto, que disse em certa ocasião “O Che é o São Francisco da Política” e “Cuba é para mim um paradigma”.
A política de estado do Brasil a favor da recolocação de Cuba no âmbito político americano, sem que a ilha tenha realizado mudanças visando a democracia, é um projeto que Lula promoveu com muita eficiência e que o torna merecedor dos elogios de seu mentor.
Os resultados obtidos pelo mandatário brasileiro foram mais efetivos do que os possibilitados pelo trio composto por Hugo Chávez, Evo Morales e Daniel Ortega, mandatários da Venezuela, Bolívia e Nicarágua respectivamente.
Enquanto o trio populista, particularmente o palhaço Hugo Chávez, gritaram e escandalizaram, adoraram em público Fidel Castro, glorificaram a Revolução e ofenderam os Estados Unidos; Lula trabalhou a favor da perpetuação do regime cubano e de sua recolocação institucional no hemisfério de forma discreta, efetiva e sem fazer inimigos.
O resultado do trabalho de Lula é em grande parte conseqüência por haver trabalhado até o momento aparentando ser um democrata conseqüente. Escondeu neste processo sua vontade de continuismo como Álvaro Uribe e a paixão totalitária que corroi Hugo Chávez e Rafael Correa.
Seu governo, ainda que assolado pelos escândalos de corrupção, é respeitado pela comunidade internacional e em particular pelas transnacionais. Devemos também ter claro que governar um país como o Brasil, lhe concede um peso de suma importância, motivo pelo qual suas opiniões e juízos não podem ser facilmente ignorados.
O regime totalitário dos Castro sempre esteve presente na lista de interesses do Partido dos trabalhadores, apesar do discurso sempre realizado por grande parte de seus membros, defendendo o pluralismo político e a democracia. Uma contradição que aparentemente é conseqüência da admiração e gratidão que Lula e o próprio PT sente por Fidel.
Depois do primeiro contato as relações entre Fidel e Lula se fortaleceram. Lula viajou para Havana em 1989, quando se preparava para se apresentar pela primeira vez, de cinco, como candidato à presidência do Brasil. Nas eleições de 1990, que elegeu Fernando Collor de Mello, Castro que estava no Brasil, visitou Lula quando o resto dos convidados só queria confraternização com o vencedor.
Desse gesto de Castro, que indiscutivelmente tem um faro especial para descobrir aliados para tempos difíceis, comentou Lula “Em nossa larga amizade, Castro teve gestos inesquecíveis.... Em outro dia, veio até minha casa para visitar-me, foi um gesto que nunca esquecerei”.
Em 1990 o Partido dos Trabalhadores, em coordenação com a ditadura cubana, fez pública a fundação do Foro de São Paulo, uma organização que reúne numerosos partidos da esquerda dentre os quais se encontram desde o chamado progressista PRD mexicano até os guerrilheiros salvadorenhos da Frente Farabundo Martí e os terroristas da FARC. Através deste organismo o PT prestou grande assistência a Castro, dando os primeiros passos para eliminar os parciais isolamentos diplomáticos, comerciais e mediáticos que Cuba enfrentava e que havia se agravado com o fim da URRS.
Por outro lado, a imprensa brasileira anunciou que Lula ganhou as eleições de 2002 com os cinco milhões de dólares que as FARC deram e com os 3 milhões de dólares que Havana entregou para a campanha do PT, apesar do financiamento externo dos partidos ser proibido pelas leis eleitorais do Brasil.
Em setembro de 2003, Lula viajou para Cuba, com seu antigo chefe da Casa Civil, José Dirceu, que durante anos viveu isolado na ilha e foi favorecido pelo regime dos Castro. Entre os acordos bilaterais se destacaram os investimentos da Petrobrás e a construção de uma nova embaixada, que seria construída em um terreno de 8 mil metros quadrados no bairro de Miramar, doado por Castro, e cujo desenho foi confiado ao arquiteto Oscar Niemeyer.
Posteriormente quando aconteceu em Cuba a transferência de poderes de Fidel Castro para Raúl, Lula da Silva disse “O mito continua. Fidel é o único mito vivo na história da humanidade. Tomou esta iniciativa e creio que isto deve ser bom para Cuba, de forma que o Brasil está satisfeito que seja assim, um processo muito tranqüilo”.
O Brasil tem sido o agente catalisador para que a América Latina estabeleça uma Política Comum para Cuba. Conseguiu o ingresso da ilha no Grupo do Rio. Tratou o caso cubano com o presidente Barack Obama durante sua visita à Casa Branca e tem insistido em todos os foros internacionais de que o regime totalitário cubano deve ser respeitado e aceito tal como é.
Sem dúvida, o Brasil tipifica a postura da América Latina com o regime de Fidel Castro, que nunca se caracterizou por uma posição doutrinária contra o totalitarismo na ilha, parece que Lula deve se sentir obrigado com Fidel e a Revolução cubana de maneira pessoal.
Parece ser importante para Lula que a utopia cubana sobreviva e por isso a defende, mas não de forma cega e nojenta como Hugo Chávez, o que o converte no melhor aliado do castrismo. Sem dúvida o comportamento de Lula se altera quando contempla a situação cubana.
Como outros dirigentes político, Lula interpreta a sucessão de Raúl por Fidel Castro como uma renovação do governo da ilha, uma mudança para formas mais abertas de governo e daí sua disposição em uma associação mais estreita com Havana.
Algumas de suas declarações levam a acreditar que está convencido que Fidel usou sua enfermidade como um pretexto para iniciar um processo de renovação; por isto disse em uma ocasião “A impressão que senti foi que Fidel estava analisando a situação política e queria criar as condições para que isto ocorra”, e continuou dizendo que em seu encontro com Castro teve a convicção de que o líder cubano gozava de perfeitas condições intelectuais para reassumir o poder. De Raúl Castro disse “é um homem altamente preparado. Tem uma visão de mundo muito importante.”
Para Luiz Inácio Lula da Silva, é importante adequar a política aos tempos e deixar para trás condutas próprias da Guerra Fria, porém aparentemente esse argumento só é valido no que é útil ao governo de Havana, porque mesmo tendo visitado a ilha em muitas ocasiões, nunca perguntou pelos prisioneiros políticos, mostrando interesse pela ausência de pluralismo político, a falta de liberdade de imprensa, ou tentado conversar com um membro da oposição tal como fez Fidel Castro com ele em 1990.