sábado, 28 de março de 2009

Emprego e inflação

Nos últimos meses, com o aprofundamento da crise econômica, estão aparecendo opiniões que estavam enterradas há várias décadas. Não é difícil atualmente encontrar jornalistas e políticos pedindo que os bancos centrais relaxem seu rigor monetário para assim elevar o consumo, aumentando a inflação, o que resultaria em uma diminuição do desemprego. Dito de outra maneira, se estaria tentando resgatar a idéia subjacente da chamada curva de Philips.

Durante muitos anos acreditou-se que a abundância de dinheiro estimulava o consumo dos cidadãos, o que por sua vez aumentava tanto as necessidades de investimentos como a de trabalho do país, para que fosse possível responder ao aumento da demanda. Quer dizer, que existia uma relação inversa entre taxa de desemprego e inflação.

Se tudo fosse tão simples e a solução para o desemprego tão fácil, seria estranho que os governos não tenham resolvido elevar em muito a quantidade de dinheiro em circulação, eliminando assim tragédia do desemprego. A razão pela qual não fizeram é que nos anos 70 foi possível comprovar que esta relação não era certa, com o surgimento de um fenômeno que segundo a curva de Philips era impensável: a estagflação. Nesses anos, a inflação foi elevada sem que a taxa de desemprego abaixasse. Hoje em dia, esta situação é especialmente dramática em Zimbábue, com uma taxa de inflação estimada em 165.000% e uma taxa de desemprego de 94%, sendo a mais evidente constatação que a relação descrita pela curva pode não estar certa.

Para entender a relação entre emprego e inflação temos que, em primeiro lugar, compreender o funcionamento de uma empresa, Esta proporciona aos consumidores os bens que demandam ao preço que exigem. Para o consumidor é indiferente os custos de uma empresa para que obtenha um produto, já que tem uma idéia de qual é o valor máximo que tem este bem, sem que em tal cálculo entre o balanço e contas de perdas e ganhos da empresa. É portanto, o produtor que deve ajustar seus custos ao preço máximo que o consumidor está disposto a pagar, ou ao contrário quebrará. O preço máximo que se poderá pagar ao trabalhador será o importe cobrado pela produção menos o resto de custos em que incorra a empresa. Para aumentar a retribuição seria necessário que a produção aumentasse, o que é possível mediante a realização de novos investimentos em equipamentos, tecnologia, etc.
Se fosse aumentada a quantidade de dinheiro em circulação ao redor de tal empresa, no princípio ela receberia um maior número de pedidos, ao ter ocorrido um aumento da renda de seus potenciais compradores, e a um maior preço. Isto poderia levar ela a precisar de um maior número de trabalhadores. A priori pareceria que tudo seria vantajoso para a empresa e os trabalhadores. Porém, ao aumentar o dinheiro em circulação avilta-se a moeda, os trabalhadores da empresa estariam ficando mais pobres de duas formas. De um lado, o salário que recebem, ainda que nominalmente seja o mesmo, só servirá para comprar menos bens, com a depreciação da moeda. Por outro lado, as poupanças dos trabalhadores perderão valor por padecerem do mesmo processo de aviltamento e depreciação.

Esta situação de empobrecimento por parte dos trabalhadores os levaria a solicitar aumentos de salário que anulassem os efeitos prejudiciais da inflação. Se forem atendidos, posto que seu salário não poderá ser maior do que a produtividade marginal, o anterior aumento da força de trabalho não poderá se produzir, pelo que em um segundo momento baixaria o número de trabalhadores contratados pela empresa. Notem ainda que mesmo que os trabalhadores tiverem se recuperado do aviltamento salarial, o mesmo não acontecerá com suas poupanças, que haviam se depreciado e o aumento inicial do emprego teria desaparecido.

Outro efeito prejudicial desta política de abundância de dinheiro barato é a dificuldade existente para avaliar a rentabilidade dos projetos de investimento. Assim, uma empresa animada pelo aumento da demanda inicial, que é produzida pela abundância de dinheiro barato, poderia avaliar a rentabilidade de um projeto de investimento e realizá-lo. Porém, passada a euforia inicial, esta demanda adicional desaparece assim que os consumidores se adaptem ao cenário inflacionário, e a empresa ficará com o custo de tal investimento sem que tenha uma demanda para seu respaldo, Por tanto, tais custos adicionais reduzem a quantidade máxima que uma empresa pode pagar a seus trabalhadores sem ir à falência.

Assim, o aumento de inflação poderá trazer consigo apenas um aumento inicial de emprego, empobrecendo salários e poupanças. Com o avanço de tempo, o mau investimento que foi provocado pela abundância de dinheiro barato e a conseqüente inflação, trarão um cenário de quebras e crises que provocarão o efeito contrário, ou seja, o aumento do desemprego.
A melhor proteção que os trabalhadores podem ter é a confiança no valor da moeda, algo que não pode ser produzido se houver inflação e ela perder o valor. A segurança servirá de base para a poupança, que por sua vez incrementará a produtividade e os futuros salários dos trabalhadores, como também do emprego.

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