sexta-feira, 1 de maio de 2009

Palhaços na ONU

Ao convidar oficialmente o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, para discursar na inauguração da Conferência Mundial da ONU contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância, essa instituição supranacional voltou a cair moralmente em evidência. O espetáculo de um tirano racista, que nega o Holocausto, discursando em um cúpula contra o racismo, marcou um precedente memorável. O momento iconográfico por excelência deste drama foi protagonizado por três estudantes judeus de nacionalidade francesa que, disfarçados de palhaços, exibiram seus narizes vermelhos ao orador. Nenhuma crítica intelectual poderia superá-los em efetividade e impacto visual: a ONU como farsa circense.

O presidente iraniano foi o único chefe de estado que viajou à Genebra na ocasião. Foi recebido pelo presidente suíço, Hans-Rudolf Merz, que defendeu posteriormente sua decisão, e pelo secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, que assegurou ter pedido moderação ao iraniano. Ahmadinejad qualificou Israel de "regime racista, cruel e opressivo”, afirmou que esta era "una nação [criada] com o pretexto do sofrimento judeu” e pregou "erradicar este bárbaro racismo". Assim, o presidete iraniano decepcionou Ki-moon, mesmo tendo a porta-voz da ONU Marie Heuze afirmado que ele tinha moderado seu discurso. Segundo declarou a própria Heuze para a Associated Press, a parte relevante do discurso oficial de Ahmadinejad em farsi dizia: "Logo após a Segunda Guerra Mundial, recorreram à agressão militar para destruir uma nação inteira com o pretexto do sofrimento judeu e a questão duvidosa e ambígua do Holocausto". Heuze assinalou que Ahmadinejad omitiu a "duvidosa e ambígua" e que, em seu lugar, aludiu ao "abuso da questão do Holocausto". O que faríamos sem a assistência indispensável dos funcionários da ONU?

A cúpula dividiu os países do mundo em duas categorias morais: aqueles que optaram pelo boicote e aqueles que decidiram participar na mesma. No primeiro grupo se destacou o Canadá, a primeira nação que tornou pública sua ausência; foi seguido por Israel e, depois, Estados Unidos; Itália, Polônia, Austrália, Nova Zelândia e Alemanha, logo que Ahmadinejad anunciou que assistiria na qualidade de chefe de estado. As nações que assistiram, se dividiram por sua vez entre as que ante as declarações de Ahmadinejad, retiraram da sala seus representantes e as que optaram por mantê-los no recinto. No primeiro destes subgrupos encontramos muitos países europeus; no segundo, as nações latinas americanas, africanas e muçulmanas.

A conferência da ONU – denominada –denominada "Durban II" porque se tratava do prosseguimento da que aconteceu na cidade africana em 2001, custou 5,3 milhões de dólares. O comitê encarregado dos preparativos foi presidido pela Líbia e era composto por países como Paquistão, Cuba, Rússia e o próprio Irã. Desses 5,3 milhões de dólares, 1,6 foram pagos por países como Rússia (600.000 dólares), Arábia Saudita (150.000), Irã (40.000), China (20.000) e Kuwait (cifra indeterminada). A OLP fez uma contribuição simbólica de 1.700 dólares. O resto do dinheiro foi fornecido pelo Escritório do Alto Comissionado para os Direitos Humanos, o que significa que inclusive os países que a boicotaram mas que financiam o caixa da ONU, contribuíram, se bem que indiretamente.

Esta nova extravagância das Nações Unidas só serviu para enterrar ainda mais sua pobre imagem internacional, destratar um estado membro de tal organização, ofender algumas nações livres, dar publicidade a um negador do Holocausto e encobrir os abusos humanitários que são cometidos em diversas regiões. "Em una conferência que prometia revisar a conduta de distintos países ante o racismo, pode alguém me dizer quem foi objeto de monitoramento?” se perguntava Hillel Neuer, da UN Watch.

Foi uma cúpula dirigida pelos opressores. Para serem ouvidas, as vítimas dos abusadores e os ativistas pró direitos humanos deviam assistir a um foro paralelo, organizado por cerca de quarenta organizações humanitárias fora do controle da ONU. Ali puderam falar o sobrevivente da Shoá Elie Wiesel, o ex-dissidente soviético Natan Sharansky, o ativista Saad Edin Ibrahim (preso durante três anos pelo governi egípcio), Kristyiana Valcheva e Ashraf el Hajoj (esta enfermeira búlgara e este médico palestino foram presos e torturados pelo regime líbio sob acusações falsas); Ahmad Batebi (passou nove anos em cárceres iranianos por mostrar na imprensa internacional a camiseta ensangüentada de um amigo em uma manifestação celebrada no Teerã), Ester Mujawayo (sobrevivente do genocído contra os tutsis em Ruanda), Gibreil Hamid (darfuriana sobrevivente do genocídio sudanês), Soe Aung (opositora da junta da Birmânia) e José Catillo (ex-prisioneiro político de Cuba), entre muitos outros.

No mesmo dia em que começou Durban II, o escritor Gerd Honsik foi levado a julgamento em Viena por negar publicamente o Holocausto. Em fevereiro, a Argentina expulsou o bispo britânico Williamson pelo mesmo motivo. Todavia, nem Áustria nem Argentina boicotaram Durban II, e a representação da Argentina nem sequer abandonou a sala quando falou o presidente iraniano. Seguramente, nem Honsik nem Williamson negociam com estas duas nações em volumes de milhões de dólares, como assim faz a República Islâmica do Irã. Porém, pelo bem da mais elementar coerência, Áustria, a Argentina e o resto do mundo livre deveriam repudiar Ahmadinejad com a mesma determinação com que sancionam sátrapas de similar calibre. Se negar o Holocausto é um delito moral em Viena e em Buenos Aires, não deveria deixar de ser em Genebra ou em Teerã.

Um comentário:

David Bor disse...

Muito bem dito! Lula da Selva está NOS transformando em palhaços...