quarta-feira, 1 de abril de 2009

Cuba: A estabilidade do medo

Em seu livro Viaje al corazón de Cuba Carlos Alberto Montaner faz uma descrição da personalidade de Fidel Castro realmente magistral. Dez anos depois, estas linhas permanecem fielmente vigentes e proporcionam algumas chaves sem as quais é impossível entender como Cuba pode continuar, 50 anos depois, aprisionada em uma loucura desacreditada pela história.

Montaner analisa os traços da personalidade narcisista de Fidel Castro para explicar que o Comandante é um personagem que não se importa com o que as pessoas o queiram, mas sim que o temam. É precisamente o medo que explica como Fidel Castro tenha conseguido manter Cuba congelada durante meio século.

O mecanismo do medo começa com uma mensagem clara: “Com a Revolução tudo, sem a Revolução nada”. No dia seguinte em que Fidel Castro tomou o poder se iniciaram em Havana julgamentos sumaríssimos que concluíram com o fuzilamento de 70 pessoas. O agora legendário Ernesto Che Guevara resumiu bem os procedimentos.

"Não são necessárias muitas averiguações para se fuzilar alguém. O que é preciso é sim saber se é necessário fuzilá-lo. Nada mais. Deve dar-se ao réu a possibilidade dele fazer sua defesa antes de fuzilá-lo. E isto quer dizer, entenda-se bem, que sempre se deve fuzilar o réu, sem importar qual tenha sido sua defesa. Não se pode equivocar-se com isto. Nossa missão não consiste em dar garantias processuais para ninguém, senão em fazer a revolução, e devemos começar pelas mesmas garantias processuais."

Castro não titubeia. Seu primeiro mês no poder deixa bem claro: a modificação da constituição de 1940 impõe a pena de morte, a retroatividade da lei penal e o confisco dos bens. Pouco a pouco se vão fechando os meios de comunicação, se nacionalizam as empresas locais e estrangeiras e se impõe o regime de partido único (comunista). No subconsciente do cubano vai fixando-se a idéia que a crítica à Revolução tem graves conseqüências.

Os que apostaram no livre pensamento foram duramente castigados. Os encarceramentos, fuzilamentos e atos de repudio não se limitaram aos opositores do regime. Os intelectuais se converteram em alvo dos Castro. O caso Padilla, conhecido escritor e intelectual cubano, novamente serve para fixar a posição de Fidel Castro: ninguém, nem os intelectuais, podem manter-se à margem da Revolução. Padilla permanece preso até ceder às pressões para retratar-se publicamente de seus desvios de pensamento.
O lubrificado mecanismo se sustenta nas chamadas “organizações de massas”, que garantem a fidelidade aos princípios revolucionários, quer dizer, a Fidel Castro. Os Comitês de Defesa da Revolução (CDR) são os encarregados de realizar informes sobre o comportamento dos vizinhos em cada bairro, sobre suas atividades suspeitas, suas queixas comuns e, aqui está o elemento mais perverso, seu zelo na hora de denunciar o próximo. Castro importou o modelo soviético, que foi apresentado no filme A vida dos outros. O iníquo sistema estabelece que o bom revolucionário deve denunciar qualquer desvio ideológico. Quaisquer vizinhos, familiares ou amigos podem denunciar qualquer crítica privada ao modelo castrista. O medo penetra até as últimas entranhas dos cubanos e até no último e mais longínquo canto da ilha.

Porém a ditadura castrista não teria cumprido meio século sem a histórica cumplicidade de uma parte importante da intelectualidade, em cumplicidade com os heróis barbudos de Sierra Maestra. Fidel Castro compreendeu o papel preponderante que teriam os meios de comunicação na hora de transmitir ao mundo uma imagem atrativa de uma Cuba revolucionaria, enfrentada pelo imperialismo ianqui. Até hoje esta visão recebe grande acolhida pelos intelectuais europeus de esquerda, e é difícil escutar uma crítica rotunda à contínua violação dos direitos humanos na ilha. Cinqüenta anos não foram suficientes para despertar uma parte da esquerda caquética. A história não os absolverá.

2 comentários:

Fusca disse...

E o nosso primeiro de Abril?
45 anos depois, onde foi parar o Brasil?
Abaixo a Ditalulla!

Fusca disse...

Depois de 8 anos de compra de votos, corrupção, crime organizado, com a eleição do "poste" Dilma ou Estela para preparar o retorno do líder do lulopetismo, com certeza estaremos mais próximos da situação de Cuba.
No Haiti, os militares da ONU liderados por oficiais brasileiros reduziram a criminalidade para um quarto do nível que ocorre no Brasil lullista. Por quanto tempo será que eles vão deixar o povo brasileiro continuar nessa penúria?