quinta-feira, 9 de abril de 2009

Direitos e virtudes

Com razão os liberais têm insistido até a exaustão a respeito dos direitos de todos como uma ferramenta essencial para o progresso. Essa é a condição necessária para que cada um possa alcançar seus propósitos sem interferir nos caminhos que outros decidam explorar. Porém isto não basta.

É como falamos, uma condição necessária mas não suficiente. Para completar o círculo e assegurar a liberdade de modo efetivo é imperioso ter uma noção clara da própria dignidade e respeitar-se a si mesmo.É indispensável ainda pronunciar-se a favor de que cada um possa seguir seu caminho, que se entendam e se pratiquem cabalmente virtudes já mencionadas. É necessário este mínimo para evitar que a liberdade sucumba. Se isso não for feito, se corre o risco de cair no cretinismo moral e sob as demanda de um amo.

Para cultivar esse mínimo de virtudes deve-se ter estudado, compreendido e aceitado a transcendência e implicações da autonomia individual, e não simplesmente declamar aos quatro ventos que em liberdade cada uma pode fazer o que queira.
  • – O ser humano não se deve a outros, tem um valor em si mesmo e portanto não pode ser avaliado com critérios circunstanciais de nenhum tipo.
  • – O ser humano tem certas propriedades e características que são inatas.
  • – O ser humano está dotado de livre arbítrio.
  • – O relativismo epistemológico se contradiz a si mesmo.
  • – Os fundamentalismos religiosos e laicos constituem uma grave ameaça para a paz.
  • – A defesa própria não justifica a detestável figura dos “danos colaterais”.
  • – Na guerra, a “obediência devida”, não pode amparar atos criminosos.
  • – A virtude de honrar a palavra empenhada é condição fundamental para a convivência civilizada.
  • – É desatinado manifestar-se a favor do direito quando se aprova o extermínio de seres humanos inocentes através do que se costuma chamar de aborto.

  • A incompreensão destes postulados se traduzem na reiterada introdução de políticas que pouco a pouco vão minando os alicerces da sociedade aberta e preparando o terreno para o extermínio de todas liberdades, seja através do ordenamento estatal, da ecologia socialista ou de uma mal entendida solidariedade sufragada com recursos coercitivamente retirados do fruto do trabalho alheio.

Que triste seria se a espécie humana acabasse abraçando o suicídio coletivo. Utilizar a benção da liberdade para submeter-se aos ditados do megalomaníaco de plantão não pode senão contemplar-se com indescritível amargura. Porém, de qualquer forma, se este for o caso, gostaria de dizer que nas famílias, nas escolas, nas universidades não se cultivaram com suficiente afinco as virtudes mínimas necessárias para o progresso individual e a convivência em uma sociedade civilizada.

Hoje se discute acaloradamente se a crise em que estamos imersos terá a forma de V, de U ou de L; ou seja, se a recuperação será rápida, se ficará no piso por pouco tempo ou se arrastará por um período prolongado. Porém estas são indagações ex post facto; a chave do assunto será entender a origem do problema, para não voltar a tropeçar nele. E a origem deve ser buscada no Leviatã, que com seus tentáculos venenosos alcançou todos os locais e características da economia. E o fez, precisamente porque não se colocou freio na proteção do valor sagrado da liberdade e dignidade do ser humano.